segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O GATO CINZENTO

Ricardo Montedo
De Norti era um bom guri, como tantos, saído da roça no interior de Encantado, direto para o serviço militar.
Inteligente e dedicado, fez curso de cabo, engajou e, em menos de dois anos, já era terceiro-sargento temporário, apto a tirar seu primeiro serviço de comandante da guarda do 144º RC.
Por essa época, apareceu pelo quartel um gato cinzento, magro e esfomeado que, atraído pelas sobras do rancho, sempre abundantes, acabou por fazer o velho regimento o seu lar.
O bichano tinha problemas de visão, certamente fruto de alguma infecção mal-curada ou coisa que o valha, a tal ponto que, um belo dia, trombou contra uma das grandes vidraças da porta principal de acesso ao saguão principal do pavilhão de comando. Bateu com tanta força que desfaleceu por alguns minutos.
Semanas depois, durante um temporal de verão, o gato, que dormia próximo ao corpo da guarda, levou um susto tremendo com um trovão mais forte e saiu em disparada em direção à mesma porta, só que desta vez, em função da velocidade, quebrou a grande vidraça.
Comandante da guarda neófito, e não querendo fazer feio frente aos superiores, o bom De Norti descreveu assim o episódio no livro de partes do serviço:
- Participo-vos que, por volta das vinte e uma horas de ontem, no momento em que as forças da natureza abateram-se com violência sobre nosso regimento, um felino de cor acinzentada, trafegando em alta velocidade, colidiu contra um dos vidros da porta do saguão principal do pavilhão de comando, vindo a quebrá-lo.
E, lembrando do fato semelhante ocorrido anteriormente, concluiu:
-Outrossim, participo-vos que o referido gato é reincidente em faltas dessa natureza.

4 comentários:

  1. Tchê, aconteceu algo parecido no 1º BISl, com um aluno do CFS/75. O Barbosa estava de Sgt de Dia quando um urubu se chocou com o transformador da companhia, queimando-a. E o Barbosa colocou no livro de Partes:
    "Participo-vos, comunico-vos e dou-vos ciência de que ontem por volta das 18 horas, uma ave, vulgarmente chamada de urubu, colidiu violenta e frontalmente contra o transformador desta Companhia, provocando a queima do mesmo.
    Outrossim, informo-vos que não houve imperícia, iomprudência ou negligência por parte da referida ave.
    Quartel em MNS-AM...Al CFS Barbosa nas ff de Sgt Dia"
    Realmente, creio que todos os quartéis da vida tem dessas histórias.
    Parabéns pelo belógue.
    João Nicácio 2º Ten Refo

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  2. João, de fato, essas estórias são mais ou menos as mesmas, por todo canto.
    Grato pela visita. Se tiver algum fato pitoresco que eu possa transformar num "causo", agradecerei pela colaboração.
    ricardomontedo@gmail.com
    Grande abraço.

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  3. Esta história é verdadeira.Aconteceu no 14 r c mec em dom Pedrito nos anos de 84 ou 85.

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